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Os Refúgios dos Vampiros

Correspondente: COSME ARISTIDES

Quando digo que os vampiros não possuem uma sociedade independente ou isolada das associações humanas, é freqüente a pergunta: em quais instituições criadas pela civilização melhor se adaptaram e onde, em conseqüência, mais facilmente se mimetizam com o ambiente? Ou, em outras palavras, quais são e onde se alojam os maiores contingentes dessas criaturas?
Valendo-me de minhas humildes referencias, respondo:

Por terem sido alijados completamente de qualquer poder criativos, os vampiros são burocratas natos, adoram aplicar normas e regulamentos, rejubilam-se em auferir poderes delegados, se orgulham em serem porta-vozes de resoluções oficiais. Portanto, o primeiro lugar em que se pode encontrar o maior número deles é as repartições públicas. Nelas se acomodam e se imiscuem os lebahitas menos ambiciosos. Os mais ambiciosos tornam-se acadêmicos. Assumem cátedras cativas em centros universitários ou postos honoríficos em academias de eruditos. Personificam os mais altos ideais da tradição culta, autoridades máximas de um intelectualismo de classe. Também conseguem grande reputação como matemáticos; embora estejam impossibilitados de propor qualquer sistema original, possuem uma elevada capacidade dedutiva e derivam com facilidade teoremas e corolários, se uma prova é possível, com certeza chegarão a ela.

A carreira de crítico é outra ocupação que apraz e se ajusta bem ao estilo vampírico. Esta ainda os deixam próximos à classe de humanos que mais lhes agrada o convívio. As obras de artistas e autores literários compensam ou amenizam uma das maiores limitações sensoriais dos vampiros. Mesmo dotados de apurado senso estético e uma percepção aguda para equilíbrios, formas e proporções; a beleza lhes escapa, estão condenados a captá-la indireta e parcialmente, jamais serão capazes de contemplá-la com olhos próprios. São completamente cegos à beleza espontânea, natural e bruta. Estarão sempre restritos aos vislumbres que lhes passam as representações e descrições dos humanos criativos. Daí apreciarem tanto a proximidade com esta destacada parcela da humanidade e exercerem profissões afins como curadores, diretores e donos de galerias. Estando em qualquer outra atividade, ou apenas tendo dinheiro para tal, serão, invariavelmente, patrocinadores; em tempos indos, faziam o mesmo, mas eram conhecidos por outro nome: mecenas. O renascimento foi pródigo em vampiros ricos apadrinhando artistas de renome. Um contingente de protetores das artes que incluía membros de famílias abastadas, da nobreza e, sim, também do clero. Para os que ainda crêem na dissimulada ojeriza que ostentam ante símbolos cristãos, será difícil imaginar vampiros ocupando postos eclesiásticos. O horror, a dor, a aversão: é tudo fingimento, uma pantomima patética para resguardar um de seus refúgios mais seguro e duradouro. Mesmo antes do cristianismo, as religiões firmemente instituídas sempre serviram como abrigo confortável para a raça lebahita. E, para antigos sacerdotes de Mitra, a migração para a igreja católica não gerou qualquer conflito ou dificuldade. Com a experiência e o conhecimento de psicologia das massas que já disponham, foram imprescindíveis na fundação do que se tornaria a maior religião do ocidente. Desde o inicio, foram dirigentes e lideres; bispos nas principais comunidades. Com o passar do tempo e a adoção de uma hierarquia ampliada, fizeram-se presentes em todos os cargos, de padre a cardeal, e até papa alguns o foram. Esta é uma revelação que deverá chocar muitos humanos, os mais devotos a desprezarão como pura blasfêmia ou sórdida heresia. É justo com este tipo de atitude que contam os vampiros. E, assim, se escondem atrás do fanatismo e da fé cega de milhões.








postado por COSME ARISTIDES na quarta-feira, julho 25, 2007